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Mostrando postagens de março, 2010

Mário de Andrade

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Ode ao burguês Eu insulto o burguês! O burguês-níquel o burguês-burguês! A digestão bem-feita de São Paulo! O homem-curva! O homem-nádegas! O homem que sendo francês, brasileiro, italiano, é sempre um cauteloso pouco-a-pouco! Eu insulto as aristocracias cautelosas! Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros! Que vivem dentro de muros sem pulos, e gemem sangue de alguns mil-réis fracos para dizerem que as filhas da senhora falam o francês e tocam os "Printemps" com as unhas! Eu insulto o burguês-funesto! O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições! Fora os que algarismam os amanhãs! Olha a vida dos nossos setembros! Fará Sol? Choverá? Arlequinal! Mas à chuva dos rosais o êxtase fará sempre Sol! Morte à gordura! Morte às adiposidades cerebrais! Morte ao burguês-mensal! Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiburi! Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano! "— Ai, filha, que te darei pelos teus anos? — Um colar... — Conto e quinhentos!!! Más nós morremos de fome!&quo

Poesia Modernista: Manuel Bandeira

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Pneumotórax Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse. Mandou chamar o médico: — Diga trinta e três. — Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . . . — Respire. ............................................................................................................... — O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. — Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? — Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

Uma música da Luíza Possi

Calma, tenha calma minha previsão do tempo diz que hoje não vai chover. Alma, minha alma. Voa leve pelo vento e me leva até você. Você me faz bem, quando chega perto, com esse seu sorriso aberto. Muda o meu olhar, meu jeito de falar. Junto de você fica tudo bem, tudo certo. Sei, eu sei que vejo mais do que eu deveria mas é que eu sou mesmo assim. Sinto, sinto tanto a sua falta todo dia, volta e traz você pra mim. Quem mandou você passar pelo meu caminho? Quantas vezes eu vou ter que repetir? Quantas vezes? Você me faz bem, quando chega perto, com esse seu sorriso aberto muda o meu olhar, meu jeito de falar. Junto de você fica tudo bem . Você me faz bem, quando chega perto, com esse seu sorriso aberto muda o meu olhar, meu jeito de falar. Junto de você fica tudo bem, fica tudo, tudo certo. Quem mandou você passar pelo meu caminho? Quantas vezes eu vou ter que repetir? Quantas vezes? Você me faz bem, quando chega perto, com esse seu sorriso aberto muda o meu olhar, meu jeito de falar. Ju

A Igreja do Diabo - Machado de Assis

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I - DE UMA IDÉIA MIRÍFICA CONTA um velho manuscrito beneditino que o Diabo, em certo dia, teve a idéia de fundar uma igreja.Embora os seus lucros fossem contínuos e grandes, sentia-se humilhado com o papel avulso que exercia desde séculos, sem organização, sem regras, sem cânones, sem ritual, sem nada. Vivia, por assim dizer, dos remanescentes divinos, dos descuidos e obséquios humanos. Nada fixo, nada regular. Por que não teria ele a sua igreja? Uma igreja do Diabo era o meio eficaz de combater as outras religiões, e destruí-las de uma vez. - Vá, pois, uma igreja, concluiu ele. Escritura contra Escritura, breviário contra breviário. Terei a minha missa, com vinho e pão à farta, as minhas prédicas, bulas, novenas e todo o demais aparelho eclesiástico. O meu credo será o núcleo universal dos espíritos, a minha igreja uma tenda de Abraão. E depois, enquanto as outras religiões se combatem e se dividem, a minha igreja será única; não acharei diante de mim, nem Maomé, nem Lutero. Há muito

Sobre Gregório de Matos - o Boca do Inferno

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Um Poeta Afortunado por Silvia La Regina IlustraçãoHoje em dia, após muitos anos de uma intensa querelle, Gregório de Mattos e Guerra é unanimemente reconhecido como o maior poeta brasileiro do século XVII, assim como um dos mais importantes escritores barrocos de expressão portuguesa. A bibliografia sobre o autor inclui mais de trezentos títulos e, alem de numerosas edições nacionais das obras do poeta, existem traduções para vários idiomas, como o alemão, o francês, o italiano e ate o chinês. Infelizmente, apesar de sua importância, a obra de Gregório de Mattos ainda não foi objeto de uma edição critica, ou seja, não nos é possível saber exatamente quanto do que leva o seu nome realmente foi escrito por ele; assim como existem varias versões, ou variantes, de muitos dos poemas. Isso porque Gregório não editou nada durante sua vida (assim como o grande espanhol Quevedo, um de seus mestres ideais) e seus poemas circularam manuscritos no Brasil (onde não podia haver imprensa) e em Portu

Poesia Barroca

Gregório de Matos Buscando a Cristo A vós correndo vou, braços sagrados, Nessa cruz sacrossanta descobertos Que, para receber-me, estais abertos, E, por não castigar-me, estais cravados. A vós, divinos olhos, eclipsados De tanto sangue e lágrimas abertos, Pois, para perdoar-me, estais despertos, E, por não condenar-me, estais fechados. A vós, pregados pés, por não deixar-me, A vós, sangue vertido, para ungir-me, A vós, cabeça baixa, p'ra chamar-me A vós, lado patente, quero unir-me, A vós, cravos preciosos, quero atar-me, Para ficar unido, atado e firme.

Livros UEL 2010

1- Poesias Selecionadas - Gregório de Matos 2- Espumas Flutuantes - Castro Alves 3- Bom-Crioulo - Adolfo Caminha 4- A Capital Federal - Artur Azevedo 5- A Confissão de Lúcio - Mario de Sá-Carneiro 6- Contos Gauchescos - João Simões Lopes Neto 7- Falso Mar, Falso Mundo - Raquel de Queiroz 8- A Teus Pés - Ana Cristina César 9- Cidade de Deus - Paulo Lins 10- O Outro Pé da Sereia - Mia Couto

Livros UEM 2010

Contos Novos, de Mário de Andrade. Dom Casmurro, de Machado de Assis. Melhores poemas, de Cláudio Manuel da Costa. Melhores poemas, de João Cabral de Melo Neto. Melhores poemas, de Manuel Bandeira. O calor das coisas, de Nélida Piñon. O cobrador, de Rubem Fonseca. Poesia e prosa completas, de Gonçalves Dias. Senhora, de José de Alencar. Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto.

MuLhEres

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Receita de mulher As muito feias que me perdoem Mas beleza é fundamental. É preciso Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture Em tudo isso (ou então Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República Popular Chinesa). Não há meio-termo possível. É preciso Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora. É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso Que seja tudo belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas Lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços Alguma coisa além da carne: que se os toque Como no âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um tem

Um poema em homengem as MULHERES

Este é um poema de amor tão meigo, tão terno, tão teu... É uma oferenda aos teus momentos de luta e de brisa e de céu... E eu, quero te servir a poesia numa concha azul do mar ou numa cesta de flores do campo. Talvez tu possas entender o meu amor. Mas se isso não acontecer, não importa. Já está declarado e estampado nas linhas e entrelinhas deste pequeno poema, o verso; o tão famoso e inesperado verso que te deixará pasmo, surpreso, perplexo... eu te amo, perdoa-me, eu te amo... "Poeminha Amoroso" Cora Coralina

Simões Lopes NeTo

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"Simões Lopes Neto é o maior dentre todos os regionalistas até os dias atuais. Sua obra constitui, simultaneamente, a síntese do acervo anterior e uma criação original, funcionando como verdadeiro divisor de águas. Blau Nunes, velho peão e guerreiro, protagonista dos Contos Gauchescos (1912), é o vaqueano que conduz o viajante através dos pagos. Trata-se aqui do portador de um conjunto de valores que expressa a imagem do gaúcho gerada pela tradição coletiva: a grandeza, a hospitalidade, a amizade, a confiança, a audácia e a perspicácia. Ocorre que a jornada não estabelece apenas um itinerário geográfico em busca das paragens típicas; também é um percurso existencial, pois o tapejara narra os casos de que participou, traçando a própria autobiografia. Mas esta coincide, ainda, com um período crucial da história do Rio Grande do Sul e a sucessão episódica oferece um panorama a o leitor: as lutas de fronteira, o desenvolvimento do contrabando, a Revolução Farroupilha, a Guerra do Para

Nova Ortografia Turma Monica[1]...

Interessante... Nova Ortografia Turma Monica[1] View more presentations from vanessabruno .

Hoje, um conto da Clarice Lispector

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Feliz Aniversário 12 05 2008 A família foi pouco a pouco chegando. Os que vieram de Olaria estavam muito bem vestidos porque a visita significava ao mesmo tempo um passeio a Copacabana. A nora de Olaria apareceu de azul-marinho, com enfeite de paetês e um drapeado disfarçando a barriga sem cinta. O marido não veio por razões óbvias: não queria ver os irmãos. Mas mandara sua mulher para que nem todos os laços fossem cortados — e esta vinha com o seu melhor vestido para mostrar que não precisava de nenhum deles, acompanhada dos três filhos: duas meninas já de peito nascendo, infantilizadas em babados cor-de-rosa e anáguas engomadas, e o menino acovardado pelo terno novo e pela gravata.Tendo Zilda — a filha com quem a aniversariante morava — disposto cadeiras unidas ao longo das paredes, como numa festa em que se vai dançar, a nora de Olaria, depois de cumprimentar com cara fechada aos de casa, aboletou-se numa das cadeiras e emudeceu, a boca em bico, mantendo sua posição de ultrajada. “V