Graciliano Ramos


Ainda falando de autores Modernistas não poderia deixar de citar o grande Graciliano Ramos. Autor de livros famosissímos, como Vidas Secas e São Bernardo, o autor de dedica a falar do povo, analisa, intrinsecamente, as maiores dores do ser humano, sejam elas causadas pelo próprio ser ou pelas adversidades da sociedade e da natureza. Uma de suas personagens mais conhecidas e a cachorra Baleia, de Vidas Secas, a qual faz parte da família de retirantes que sofre pelo calor, falta de chuva e alimentos no sertão nordestino.
A obra de Graciliano Ramos é a melhor ficção produzida na segunda fase modernista e um dos pontos altos de nossa literatura, em todos os tempos. O que há de comum entre todas as obras de Graciliano? Claro que cada livro é um livro, mas em todo grande escritor há, ligando uma obra a outra, uma unidade. Essa unidade resulta da maneira como o escritor entende a vida e a arte.

Quanto à concepção de arte, a crítica evidencia no estilo de Graciliano Ramos a ausência de sentimentalismo e a capacidade de síntese, ou seja, a habilidade de dizer o essencial em poucas palavras. A linguagem rigorosa, enxuta, resulta de um trabalho consciente.

De fato, o autor escrevia pouco e lentamente, submetendo seus textos a várias revisões. Conta-se que jamais se sentia inteiramente satisfeito com o resultado final.

Que finalidade tinha para esse escritor a arte? Segundo o crítico Antonio Candido, "no âmago de sua arte há um desejo intenso de testemunhar sobre o homem...". Não apenas sobre o homem do seu tempo e de seu meio, mas sobre as angústias e dramas do homem de sempre.

Caetés, São Bernardo e Angústia ilustram o mergulho do escritor na alma humana, com a finalidade de descobrir o que está debaixo da superficialidade da aparência. Escritos em primeira pessoa, são narrativas que se prendem á análise do mundo interior, mas sem desprezar o contexto sociopolítico em que vive cada personagem. Pelo contrário, é do contraste entre o eu mais íntimo e o ser social de cada um que decorrem os conflitos.

Em São Bernardo o desequilíbrio entre as duas "camadas" do personagem-narrador - Paulo Honório - manifesta-se na consciência de que o trabalho o levara a agir da maneira que agia: despótica, tiranicamente, a ponto de induzir a mulher, Madalena, ao suicídio. Aos poucos, enquanto escreve sua história, Paulo Honório conscientiza-se de que seu fracasso como ser humano foi conseqüência de ter submetido tudo - inclusive suas relações humanas - a um processo de coisificação em que o mais importante era o ter, não o ser.

Nas narrativas feitas em terceira pessoa - Vidas secas (romance) e Insônia (contos) - prevalece a visão da realidade social sobre a análise psicológica das personagens. Vidas secas insere-se na linha regionalista, uma vez que nele avulta o drama social e geográfico da região Nordeste. Se nos romances em primeira pessoa interessava mais o homem, aqui interessa o homem vinculado ao seu meio natural - o sertão.

As narrativas autobiográficas, Infância e Memórias do cárcere, naturalmente estão presas à subjetividade do autor; mas não se esgotam apenas no registro de seu drama pessoal, pois ultrapassam o individual para atingir o social e o universal. Assim, Memórias do cárcere não é o relato puro e simples do sofrimento e humilhações do homem Graciliano Ramos; é a análise da prepotência que marcou a ditadura Vargas e que, em última análise, marca qualquer ditadura.



Obra

Romances: Caetés (1933); São Bernardo (1934); Angústia (1 93 6); Vidas secas (1938). Escreveu ainda parte do romance Brandão entre o mar e o amor, em parceria com Rachei de Queiroz, José Lins do Rego, Jorge Amado e Anibal Machado.

Conto: Insônia (1947).

Memórias: Infância (1945); Memórias do cárcere (1953); Viagem (1954); Linhas tortas (1962).

Crônica : Viventes das Alagoas (1962).

Literatura infanto-juvenil: A terra dos meninos pelados (1937); Histórias de Alexandre (1944); Histórias incompletas (1946).

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