Quarta-feira de Cinzas....


É isso mesmo pessoal, nosso feriado prolonmgada está se findando e agora que passou o Carnaval, quem sabe, o Brasil começa a funcionar....
Um dia realmente cinza, como o próprio nome já diz, nostálgico, merece uma poesia do livro A Cinza das Horas de Manuel Bandeira, autor reconhecidamente Modernista, entretanto, este livro é marcado pelo tom fúnebre, e traz poemas parnasiano-simbolistas. São poesias compostas durante o período de sua doença. Do ano em que o poeta adoece até 1917, quando publica A Cinza das Horas, é que se daria a etapa decisiva e a inusitada gestação de um dos maiores escritores da língua portuguesa.

Segundo ele próprio, Manuel Bandeira, quando publica esse livro não tinha a intenção de começar carreira literária: "desejava apenas dar-me a ilusão de não viver inteiramente ocioso". O eu-lírico vivencia o ato de morrer à medida que (des)escreve sua agonia em seus versos que são seu sangue. Segue uma das poesias:

DESENCANTO

Eu faço versos como quem chora
De desalento. . . de desencanto. . .
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente. . .
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.

Teresópolis, 1912.

Beijos e até mais...

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